Mulheres Independentes em 2025: O Paradoxo Entre Liberdade e Medo nas Viagens Femininas

Como podemos criar um mundo onde viajar sozinha ou morar sozinha seja uma escolha?
O Brasil ocupa a segunda posição no ranking dos países mais perigosos para mulheres viajarem sozinhas

Você já se imaginou viajando sozinha pelo mundo? Ou quem sabe, morando em um apartamento só seu, sem ter que dar satisfações a ninguém?

Essas realidades têm se tornado cada vez mais comuns para as mulheres brasileiras. Mas será que estamos realmente preparadas para abraçar essa independência?

E mais importante: a sociedade está pronta para nos aceitar assim?

O turismo solo feminino tem crescido de forma expressiva nos últimos anos. Segundo dados do Ministério do Turismo, 30% das viagens em uma determinada agência pesquisada são realizadas por mulheres viajando sozinhas.

São Paulo, Rio de Janeiro e cidades do Nordeste figuram entre os destinos mais procurados.

Mas o que motiva tantas mulheres a embarcarem nessa aventura solitária?

Para Sylvia Barreto, jornalista e influenciadora que há 14 anos cria conteúdo para mulheres que viajam sozinhas, a resposta está na sensação de empoderamento. “Quando percebi que viajar sozinha era um tabu para as mulheres, comecei a compartilhar minhas experiências para incentivar outras a viajarem. Já visitei várias cidades do Brasil sozinha e me sinto muito poderosa, porque sei que posso fazer o que eu quiser”, afirma Sylvia. (Fonte)

O aumento do turismo solo feminino é um reflexo da busca por autonomia e autoconhecimento. No entanto, essa liberdade vem acompanhada de desafios significativos, especialmente em termos de segurança e aceitação social. É crucial que a sociedade evolua para garantir que as mulheres possam desfrutar dessa independência sem medo ou julgamento.

Mas nem tudo são flores nesse jardim da liberdade.

O medo e a insegurança ainda são companheiros constantes dessas viajantes.

O paradoxo da independência: liberdade x medo

O Brasil ocupa a segunda posição no ranking dos países mais perigosos para mulheres viajarem sozinhas, segundo dados do Women Danger Index. Esse dado nos leva a questionar: estamos realmente progredindo em termos de igualdade de gênero ou apenas expondo nossas mulheres a mais riscos?

Camille Carboni, de 26 anos, que viaja sozinha há um tempo, resume bem esse dilema: “Sentir medo antes de viajar sozinha sendo mulher é quase que um sentimento obrigatório. O mundo não é um lugar muito divertido para ser mulher. É impossível não ter medo”. (fonte)

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Mas será que o problema está realmente em viajar ou em ser mulher? Lanna Sanches, criadora da plataforma “Elas viajam sozinhas”, acredita que o medo já faz parte da rotina feminina, independentemente de estar viajando ou não. “O medo que eu tenho é o medo que eu tinha em São Paulo, é o medo que já era presente em mim, na minha rotina antes da viagem sozinha”, relata.(fonte)

Morando sozinha: um novo capítulo na vida das mulheres

Mas a independência feminina não se limita apenas às viagens. Morar sozinha tem se tornado uma realidade cada vez mais comum para as mulheres brasileiras. Segundo pesquisa do Ibope realizada em 2014, 46% das pessoas que moram sozinhas no país são mulheres. Dessas, 31% têm entre 25 e 34 anos.

Angelita Silveira de Farias, arquiteta de 43 anos, é um exemplo dessa nova realidade. Ela mora sozinha há cinco anos em um lugar projetado para ser seu cantinho. “Sempre fui apaixonada por privacidade e silêncio. Preciso estar sozinha, ter momentos só meus, sinto falta”, conta.(fonte)

Mas assim como nas viagens, morar sozinha também traz seus desafios. Núbia Bissolotti, de 46 anos, que mora sozinha há 15 anos em Porto Alegre, admite que seu dia a dia é de altos e baixos. “Teve épocas em que chegava sexta-feira e eu via as pessoas se movimentando, mas não tinha nada marcado. Ficava frustrada. A terapia me ajudou a encontrar outras formas de estar bem”, revela.(fonte)

Apesar dos avanços, o preconceito contra mulheres que escolhem viver sozinhas ainda é uma realidade. Angelita Farias relata: “Tem muita imposição sobre isso, mas sempre digo: encalhada é quem está presa em um relacionamento, eu sou livre para fazer minhas escolhas”.(fonte)

Núbia Bissolotti também enfrenta questionamentos constantes. “Filhos nunca foi uma ideia, mas o casamento em si, me questionei. Meus familiares perguntam, vejo que a minha mãe faz por amor. Mas alguns aliam isso ao sucesso e me criticam, esse é o fator de felicidade para eles”, conta.(fonte)

A pandemia e o isolamento: um novo desafio

O ano de 2020 trouxe um desafio adicional para as mulheres que moram sozinhas: o isolamento social imposto pela pandemia de COVID-19. Como lidar com a solidão em um momento em que o contato físico é limitado?

A psicóloga Julia Bittencourt, especialista em saúde da mulher, explica que é importante diferenciar solidão de solitude.

Enquanto a solidão costuma ser associada à angústia e ao desamparo, a solitude pressupõe uma escolha ou uma disposição de se conectar consigo mesmo.

À medida que avançamos para 2025, é evidente que as mulheres estão cada vez mais dispostas a abraçar sua independência, seja viajando sozinhas ou morando por conta própria. Mas será que a sociedade está evoluindo na mesma velocidade?

As estatísticas de violência contra a mulher ainda são alarmantes.

Segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), os feminicídios e homicídios femininos tiveram crescimento de 2,6% no primeiro semestre de 2023 em relação ao mesmo período de 2022.

Esses números nos fazem questionar: estamos realmente progredindo ou apenas expondo nossas mulheres a mais riscos?

Como podemos garantir que a busca pela independência não se torne uma sentença de perigo constante?

Empoderando-se através da informação

Uma das formas de combater esse cenário é através da informação e do apoio mútuo.

Comunidades online como o Sisterwave, que conecta viajantes com moradoras locais para obter dicas e apoio, têm surgido como uma rede de proteção para mulheres que desejam explorar o mundo sozinhas.

Além disso, iniciativas governamentais como a campanha #OTurismorespeitaasmulheres, lançada pelo Ministério do Turismo em parceria com o Ministério das Mulheres, buscam promover a conscientização sobre a exploração sexual no turismo.

Enquanto celebramos os avanços na independência feminina, é crucial reconhecer que ainda há um longo caminho a percorrer.

O aumento no número de mulheres viajando e morando sozinhas é, sem dúvida, um sinal de progresso. No entanto, as estatísticas de violência contra a mulher nos lembram que a luta por igualdade e segurança está longe de terminar.

Como sociedade, precisamos nos perguntar:

  • O que podemos fazer para garantir que nossas mulheres possam desfrutar de sua independência sem medo?
  • Como podemos criar um mundo onde viajar sozinha ou morar sozinha seja uma escolha, não um ato de coragem?

À medida que avançamos para 2025 e além, essas são as questões que devemos manter em mente.

Afinal, uma sociedade verdadeiramente igualitária é aquela em que todas as escolhas são respeitadas e todas as pessoas podem viver sem medo, independentemente de seu gênero.

Fontes:

Lucilaine Souza

Lucilaine Souza é escritora e professora especializada em Projeto de Vida, Formação Humana e Língua Portuguesa. Com experiência consolidada em desenvolvimento pessoal e educação, ela fundou o Garotas Crescidas em 2017, uma plataforma dedicada ao universo feminino. Como especialista em formação humana, Lucilaine aborda temas cruciais para mulheres contemporâneas, incluindo desenvolvimento pessoal, autoestima, empoderamento e igualdade de gênero. Sua expertise educacional e compromisso com a pesquisa fundamentada garantem conteúdo confiável e transformador, combinando rigor acadêmico com linguagem acessível. No Garotas Crescidas, ela lidera a produção de conteúdo informativo e inspirador, estabelecendo um espaço seguro onde temas fundamentais à vida adulta feminina são explorados com profundidade e credibilidade.

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