O evento é mais do que um encontro — é um grito coletivo por representatividade, direitos e reconhecimento.
O que a conferência representa para as mulheres indígenas
A ideia de uma Conferência Nacional das Mulheres Indígenas nasceu da necessidade de criar um espaço seguro e estruturado para que as mulheres pudessem discutir questões que afetam diretamente suas vidas.
A desigualdade de gênero, o feminicídio e as limitações de acesso à educação e saúde são alguns dos temas centrais desse debate.
O evento será precedido por sete etapas regionais, que ocorrerão em diferentes biomas do Brasil.
Nessas etapas, mulheres indígenas de diversas culturas e regiões terão a oportunidade de compartilhar suas vivências e articular demandas que serão levadas para Brasília.
Esse processo é uma forma de garantir que vozes diversas sejam ouvidas e que as propostas apresentadas reflitam as realidades das mulheres indígenas em todo o país.
Além de ser um marco histórico, a conferência é uma forma de visibilizar lutas e articular soluções coletivas. Ela também coloca as mulheres indígenas no centro da construção de políticas públicas, garantindo que suas vozes sejam ouvidas diretamente nas instâncias de poder.
A realização desse evento em Brasília, o coração político do Brasil, reforça a urgência de colocar a pauta indígena no centro das discussões nacionais.
O aumento da violência: desafios enfrentados pelas mulheres indígenas no Brasil
Enquanto a conferência representa um momento de esperança, não se pode ignorar o cenário de violência que afeta profundamente a vida das mulheres indígenas.
O aumento expressivo no número de feminicídios nos últimos anos é alarmante.
Segundo um levantamento recente no site IBGE Indígenas – fonte no final da matéria-, os casos de assassinatos de mulheres indígenas cresceram 500% em uma década. Esse dado reforça a gravidade da discriminação e vulnerabilidade vivida por essas mulheres.
Entre os principais fatores que contribuem para esse aumento estão os conflitos por terras e recursos naturais, que frequentemente colocam comunidades indígenas em situações de vulnerabilidade extrema. Além disso, a discriminação estrutural dificulta o acesso à justiça e proteção para as mulheres indígenas, enquanto a falta de políticas públicas específicas ignora as particularidades das violências enfrentadas por elas.
O impacto dessa violência desestabiliza famílias, desarticula comunidades e enfraquece as redes de apoio que são fundamentais para a preservação da cultura e da identidade indígena.
A conferência surge, assim, como um espaço vital para trazer essas questões para o centro do debate político e propor ações concretas para combatê-las.
Conheça e acompanhe a programação das etapas regionais
A etapa nacional, denominada COPAÍBA, ocorrerá de 6 a 10 de março de 2025, em Brasília, sob a organização da Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (ANMIGA), mas o evento será precedido por sete etapas regionais, confira:
- 29 e 30 de novembro de 2024: Terra Indígena Limão Verde, Amambai (MS). Organização: Kuñangue Aty Guasu.
- 9 a 13 de dezembro de 2024: Curitiba (PR). Organização: Articulação dos Povos Indígenas do Sul (Arpinsul) e Comissão Guarani Yvyrupa (CGY).
- 16 a 19 de dezembro de 2024: Paulo Afonso (BA). Organização: Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo (Apoinme) e seu Departamento de Mulheres Indígenas, Movimento Unido dos Povos e Organizações Indígenas da Bahia.
- 15 a 17 de janeiro de 2025: Terra Indígena Katukina/Kaxinawá. Organização: Sitoakore e União das Mulheres Indígenas da Amazônia Brasileira (UMIAB).
- 20 a 24 de janeiro de 2025: Porto Velho (RO). Organização: Associação das Guerreiras Indígenas de Rondônia (Agir) e UMIAB.
- 4 a 6 de fevereiro de 2025: Território Piaçaguera (SP). Organização: Articulação dos Povos Indígenas da Região Sudeste (Arpinsudeste) e CGY.
- 12 a 14 de fevereiro de 2025: Baía da Traição (PB). Organização: Conselho de Mulheres Indígenas da Paraíba, Apoinme e seu Departamento de Mulheres Indígenas.
Os dados do Censo e a força da população indígena: motivos para acreditar na mudança
Apesar dos desafios, os dados do Censo de 2022 – recentes divulgados e atualizados – pelo IBGE indígenas, mostram um cenário de resistência e crescimento.
De acordo com as informações, a população indígena brasileira chegou a 1.693.535 pessoas, representando 0,83% da população total do país.
Além disso, houve um aumento significativo da população vivendo em Terras Indígenas, que agora soma quase 690 mil pessoas, um crescimento de 21% em relação a 2010.
Esses números indicam que, mesmo diante de adversidades, as populações indígenas seguem resistindo e reafirmando suas identidades. E dentro dessas comunidades, as mulheres desempenham um papel central como lideranças, cuidadoras e guardiãs do conhecimento ancestral. A conferência pode ser vista como uma oportunidade de conectar os dados do Censo com ações práticas.
Se a população indígena está crescendo e se organizando, é hora de garantir que suas demandas sejam transformadas em políticas públicas que atendam às suas realidades.
Com a força revelada por esses números, a Primeira Conferência Nacional das Mulheres Indígenas é mais do que um marco histórico.
É um chamado para todas nós — indígenas ou não — refletirmos sobre o que significa ser mulher em um país tão diverso quanto desigual.
Quando uma mulher indígena se fortalece, ela carrega consigo uma história, uma cultura e uma luta que beneficia o país como um todo. Que a conferência seja um passo importante na construção de um Brasil mais justo, diverso e igualitário para todas as mulheres.
- https://www.gov.br/mulheres/pt-br/central-de-conteudos/noticias/2024/novembro/vem-ai-a-primeira-conferencia-nacional-das-mulheres-indigenas
- https://www.gov.br/povosindigenas/pt-br/assuntos/noticias/2024/10/ibge-divulga-novos-dados-do-censo-indigena-de-2022
- https://indigenas.ibge.gov.br/
- https://anmiga.org/