Elas Levantam Suas Vozes: O Marco Histórico da Primeira Conferência Nacional das Mulheres Indígenas

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  • Última modificação do post:29/11/2024
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Programação da Conferência Nacional das Mulheres Indígenas - Foto: anmiga.org
Nos próximos meses, o Brasil verá um evento sem precedentes que promete transformar a luta das mulheres indígenas em uma força ainda mais visível e organizada: a Primeira Conferência Nacional das Mulheres Indígenas.Agendada para março de 2025, em Brasília, a conferência terá várias etapas regionais em todo o país antes do evento principal.Enquanto os números mostram desafios alarmantes, como o aumento de 500% no número de feminicídios indígenas ao longo de uma década, as mulheres indígenas estão se mobilizando como nunca.Em meio a este cenário, o evento surge como um símbolo de resistência e uma oportunidade de amplificar vozes historicamente silenciadas.

O evento é mais do que um encontro — é um grito coletivo por representatividade, direitos e reconhecimento.

 

O que a conferência representa para as mulheres indígenas

A ideia de uma Conferência Nacional das Mulheres Indígenas nasceu da necessidade de criar um espaço seguro e estruturado para que as mulheres pudessem discutir questões que afetam diretamente suas vidas.

A desigualdade de gênero, o feminicídio e as limitações de acesso à educação e saúde são alguns dos temas centrais desse debate.

O evento será precedido por sete etapas regionais, que ocorrerão em diferentes biomas do Brasil.

Nessas etapas, mulheres indígenas de diversas culturas e regiões terão a oportunidade de compartilhar suas vivências e articular demandas que serão levadas para Brasília.

Esse processo é uma forma de garantir que vozes diversas sejam ouvidas e que as propostas apresentadas reflitam as realidades das mulheres indígenas em todo o país.

Além de ser um marco histórico, a conferência é uma forma de visibilizar lutas e articular soluções coletivas. Ela também coloca as mulheres indígenas no centro da construção de políticas públicas, garantindo que suas vozes sejam ouvidas diretamente nas instâncias de poder.

A realização desse evento em Brasília, o coração político do Brasil, reforça a urgência de colocar a pauta indígena no centro das discussões nacionais.

 

O aumento da violência: desafios enfrentados pelas mulheres indígenas no Brasil

Enquanto a conferência representa um momento de esperança, não se pode ignorar o cenário de violência que afeta profundamente a vida das mulheres indígenas.

O aumento expressivo no número de feminicídios nos últimos anos é alarmante.

Segundo um levantamento recente no site IBGE Indígenas – fonte no final da matéria-, os casos de assassinatos de mulheres indígenas cresceram 500% em uma década. Esse dado reforça a gravidade da discriminação e vulnerabilidade vivida por essas mulheres.

Entre os principais fatores que contribuem para esse aumento estão os conflitos por terras e recursos naturais, que frequentemente colocam comunidades indígenas em situações de vulnerabilidade extrema. Além disso, a discriminação estrutural dificulta o acesso à justiça e proteção para as mulheres indígenas, enquanto a falta de políticas públicas específicas ignora as particularidades das violências enfrentadas por elas.

O impacto dessa violência desestabiliza famílias, desarticula comunidades e enfraquece as redes de apoio que são fundamentais para a preservação da cultura e da identidade indígena.

A conferência surge, assim, como um espaço vital para trazer essas questões para o centro do debate político e propor ações concretas para combatê-las.

 

Conheça e acompanhe a programação das etapas regionais

Divulgação Conferência-Nacional-das-Mulheres-Indígenas
Imagem de divulgação da estratégia conjunta para fomentar um pacote de políticas públicas focadas nas mulheres indígenas

 

A etapa nacional, denominada COPAÍBA, ocorrerá de 6 a 10 de março de 2025, em Brasília, sob a organização da Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (ANMIGA), mas o evento será precedido por sete etapas regionais, confira:

  • 29 e 30 de novembro de 2024: Terra Indígena Limão Verde, Amambai (MS). Organização: Kuñangue Aty Guasu.
  • 9 a 13 de dezembro de 2024: Curitiba (PR). Organização: Articulação dos Povos Indígenas do Sul (Arpinsul) e Comissão Guarani Yvyrupa (CGY).
  • 16 a 19 de dezembro de 2024: Paulo Afonso (BA). Organização: Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo (Apoinme) e seu Departamento de Mulheres Indígenas, Movimento Unido dos Povos e Organizações Indígenas da Bahia.
  • 15 a 17 de janeiro de 2025: Terra Indígena Katukina/Kaxinawá. Organização: Sitoakore e União das Mulheres Indígenas da Amazônia Brasileira (UMIAB).
  • 20 a 24 de janeiro de 2025: Porto Velho (RO). Organização: Associação das Guerreiras Indígenas de Rondônia (Agir) e UMIAB.
  • 4 a 6 de fevereiro de 2025: Território Piaçaguera (SP). Organização: Articulação dos Povos Indígenas da Região Sudeste (Arpinsudeste) e CGY.
  • 12 a 14 de fevereiro de 2025: Baía da Traição (PB). Organização: Conselho de Mulheres Indígenas da Paraíba, Apoinme e seu Departamento de Mulheres Indígenas.

Os dados do Censo e a força da população indígena: motivos para acreditar na mudança

Apesar dos desafios, os dados do Censo de 2022 – recentes divulgados e atualizados – pelo IBGE indígenas, mostram um cenário de resistência e crescimento.

De acordo com as informações, a população indígena brasileira chegou a 1.693.535 pessoas, representando 0,83% da população total do país.

Além disso, houve um aumento significativo da população vivendo em Terras Indígenas, que agora soma quase 690 mil pessoas, um crescimento de 21% em relação a 2010.

Esses números indicam que, mesmo diante de adversidades, as populações indígenas seguem resistindo e reafirmando suas identidades. E dentro dessas comunidades, as mulheres desempenham um papel central como lideranças, cuidadoras e guardiãs do conhecimento ancestral. A conferência pode ser vista como uma oportunidade de conectar os dados do Censo com ações práticas.

Se a população indígena está crescendo e se organizando, é hora de garantir que suas demandas sejam transformadas em políticas públicas que atendam às suas realidades.

Com a força revelada por esses números, a Primeira Conferência Nacional das Mulheres Indígenas é mais do que um marco histórico.

É um chamado para todas nós — indígenas ou não — refletirmos sobre o que significa ser mulher em um país tão diverso quanto desigual.

Quando uma mulher indígena se fortalece, ela carrega consigo uma história, uma cultura e uma luta que beneficia o país como um todo. Que a conferência seja um passo importante na construção de um Brasil mais justo, diverso e igualitário para todas as mulheres.

Lucilaine Souza

Lucilaine Souza é escritora e professora especializada em Projeto de Vida, Formação Humana e Língua Portuguesa. Com experiência consolidada em desenvolvimento pessoal e educação, ela fundou o Garotas Crescidas em 2017, uma plataforma dedicada ao universo feminino. Como especialista em formação humana, Lucilaine aborda temas cruciais para mulheres contemporâneas, incluindo desenvolvimento pessoal, autoestima, empoderamento e igualdade de gênero. Sua expertise educacional e compromisso com a pesquisa fundamentada garantem conteúdo confiável e transformador, combinando rigor acadêmico com linguagem acessível. No Garotas Crescidas, ela lidera a produção de conteúdo informativo e inspirador, estabelecendo um espaço seguro onde temas fundamentais à vida adulta feminina são explorados com profundidade e credibilidade.

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