Helena Theodoro é um nome que deveria estar na boca de toda mulher brasileira. Nascida e criada na favela do Salgueiro, no Rio de Janeiro, ela se tornou a primeira mulher negra a conquistar um doutorado em Filosofia no Brasil.
Sua história é um testemunho vivo de perseverança, inteligência e dedicação à cultura afro-brasileira.
Helena Theodoro nasceu em 1954, em uma época em que o acesso à educação superior era um sonho distante para a maioria das mulheres negras no Brasil. Criada em uma família que valorizava profundamente a educação e a cultura, Helena desenvolveu desde cedo uma paixão pelo conhecimento e pelas tradições afro-brasileiras.
Sua jornada acadêmica começou na Universidade Federal Fluminense (UFF), onde se formou em Direito.
Mas foi na pós-graduação que Helena encontrou sua verdadeira vocação. Em 1985, ela defendeu sua tese de doutorado intitulada “O negro no espelho” na Universidade Gama Filho, tornando-se assim a primeira mulher negra a obter um doutorado em Filosofia no Brasil.
A trajetória de Helena Theodoro não é apenas uma história de sucesso individual, mas um símbolo de resistência e transformação social. Sua conquista abriu portas para gerações de mulheres negras na academia, desafiando estereótipos e inspirando mudanças profundas na sociedade brasileira.
A Trajetória Única de Helena Theodoro
Segundo a própria Helena, em entrevista à Associação Nacional de Pós-Graduação em Filosofia (ANPOF), sua formação familiar foi crucial para o desenvolvimento de sua consciência negra e o orgulho de pertencer às tradições culturais africanas e indígenas.
“Minha família sempre me ensinou a valorizar nossas raízes e a lutar pelos nossos direitos”, afirmou Helena.
O trabalho acadêmico de Helena Theodoro é profundamente enraizado na cultura afro-brasileira.
Ela é autora de obras significativas como “Os Ibejis e o Carnaval” e “Iansã, rainha dos ventos e das tempestades”, que exploram aspectos importantes da mitologia e das tradições afro-brasileiras.
Sua pesquisa não se limita apenas ao campo teórico. Helena tem sido uma voz ativa na discussão sobre a presença negra na pós-graduação brasileira.
Ela frequentemente aborda os desafios enfrentados pela comunidade negra no acesso à educação superior e na representatividade acadêmica.
Em suas palestras e escritos, Helena enfatiza a importância de reconhecer e valorizar as contribuições africanas para a cultura brasileira. Ela argumenta que entender essas raízes é essencial para combater o racismo e promover uma sociedade mais justa e igualitária.
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Reconhecimento e Honrarias: O Legado de Helena Theodoro
O trabalho pioneiro de Helena Theodoro não passou despercebido.
Em abril de 2024, ela recebeu a Medalha Tiradentes, a mais alta honraria concedida pelo estado do Rio de Janeiro.
A cerimônia, realizada na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), foi um reconhecimento de sua contribuição inestimável para a cultura e educação brasileiras.
Mas o reconhecimento não para por aí.
Atualmente, o Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) em São Paulo está realizando uma exposição em homenagem a Helena Theodoro.
A mostra, que começou em 6 de dezembro de 2024 e vai até 29 de janeiro de 2025, apresenta objetos pessoais, fotografias, vídeos e documentos que retratam a trajetória desta notável intelectual brasileira.
Helena Theodoro na Educação e na Cultura Brasileira
O legado de Helena Theodoro transcende suas conquistas pessoais. Ela abriu caminho para gerações de mulheres negras na academia brasileira, inspirando jovens estudantes a perseguirem seus sonhos apesar dos obstáculos.
Sua pesquisa sobre a cultura afro-brasileira contribuiu significativamente para a valorização e preservação dessas tradições.
Ao trazer esses temas para a academia, Helena ajudou a legitimar e dar visibilidade a aspectos da cultura brasileira por muito tempo marginalizados.
O impacto de Helena se estende ao campo da filosofia, educação e direitos humanos. Sua tese de doutorado, “O negro no espelho”, foi pioneira ao abordar a filosofia africana em um contexto brasileiro, desafiando visões eurocêntricas e promovendo uma abordagem mais inclusiva.
Na educação, Helena defende incansavelmente a inclusão de temas relacionados à história e cultura afro-brasileira nos currículos escolares.
Ela argumenta que essa inclusão é vital para todos os brasileiros, promovendo uma compreensão mais completa da identidade nacional.
Sua influência vai além da academia.
Helena é uma figura importante no movimento negro brasileiro, participando ativamente de debates públicos e contribuindo para políticas públicas voltadas à promoção da igualdade racial.
A exposição atual no CCBB São Paulo é um testemunho do impacto duradouro de Helena Theodoro. A mostra celebra suas conquistas pessoais e destaca a riqueza da cultura afro-brasileira, servindo como um lembrete do caminho que ainda precisa ser percorrido em termos de igualdade racial e de gênero no Brasil.
Sua história continua a inspirar e desafiar e nos lembra que o conhecimento é uma ferramenta poderosa de transformação social e que a educação pode ser um caminho para superar barreiras sociais e econômicas.